quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

EXPLICAÇÃO BÁSICA DO KIMBUNDU E KIKONGO

Irei falar um pouco, sobre o básico das línguas Bantu/Bantas.

Nas casas religiosas de matrizes africanas, de tradição e culto Angola e kongo Angola, as línguas usadas no cotidiano, nas cantigas (Mimbu-Plural de Muimbu)  e rezas (Diambu - Plural de Mambu), são o Kimbundu e Kikongo. As gramáticas dessas línguas foram elaboradas por europeus (Arqueólogos, pesquisadores e padres), pois os antigos nativos Bantu (Bantu = Povo - Mutu = Pessoa/gente - Plural de Atu), apenas as usavam para comunicação entre os mesmos.

Aproveito essa oportunidade para esclarecer sobre as palavras MAKOTA e NGOLOXI, a qual muitos escrevem erroneamente "ANGOROSI" e pior "ANGOROCI".
Muitos usam a palavra Makota para designar "um novo cargo", alguém com diferenciações em relação a Kota!!! A palavra Makota é apenas o plural da palavra KOTA, que significa mais velho/velha, mais sábio/sábia, pessoa respeitada ou simplesmente para designar as mulheres que não são tomadas em possessão por sua Divindade e são confirmadas/iniciadas.
Ngoloxi, significa ENTARDECER e  trata-se de um nome de uma reza específica e não de todas as rezas ou de rezar/orar.

O Kimbundu e o Kikongo são línguas elaboradas e divididas por classes, sendo essas que organizam toda gramática.

Minha intenção elaborando esse texto, é apenas passar as questões básicas dessas línguas.... Tendo essa base, creio que o entendimento se tornará um pouco mais fácil.

Por exemplo, às letras "Q" e "C" não fazem parte da gramática dessas línguas, sendo substituídas pela letra "K".

Diferente do PORTUGUÊS, o plural é designado/apontado no início da palavra ou frase e NÃO NO FINAL.

Por exemplos:
Nkisi = Divindade originária do Kongo - Plual Minkisi
Mukixi/Mukisi = Divindade originária de Angola - Plural Akixi/Akisi
Mona = Filho(a) - Plural Ana
Inzo = Casa - Plural Jinzo
Kota = Mulher que não é tomada por possessão/mais velho(a), mais sábio(a) - Plural Makota
Dikezu/Rikezu = Nós de Cola/Fruto da Coleira - Plural Makezu
Pokó = Faca - Plual Jipoko

Observem que a letra ou letras que apontam o plural da palavra no início da mesma, são variáveis dependendo da classe a qual ela pertença.

Também para designar o AUMENTATIVO ou DIMINUTIVO das palavras ou frases, seus apontamentos estão no início das mesmas.
As palavras iniciadas por "KI" pertencem à classe substantivo III, tendo seu prefixo de concordância= "KI".

O AUMENTATIVO se faz acrescentando-se o prefixo "KI"......  O DIMINUTIVO se faz acrescentando o prefixo "KA".

A negativa verbal muitas vezes inicia-se por K. Iniciam-se por KU todo o verbo no infinitivo.
Kibaku kua tat'etu kiala mu Tãla = O assento de nosso pai está no tôpo(alto)

Kabaku= diminutivo de Kibaku= pequeno tamborete/assento.
Kamutue = Cabecinha
Katende = Pequeno Lagarto
Kanzo = Pequena casa (casinha).

KI - Prefixo usado para fazermos o AUMENTATIVO.
Exemplo: Mbiji = Peixe - Kimbiji = Peixe grande
Mburi = Carneiro - Kimburi = Carneirão

Kamburi, kimburi, talenu ku rilu, talenu boxi = Carneirinho, carneirão, olhai para o céu, olhai para o chão.

As LETRAS CONSOANTES não dobram nunca - Exemplo: SS, RR.
As LETRAS VOGAIS dobram, dependendo da classe - Exemplo: Maniinga = Sangue.

Nenhuma palavra do Kimbundu ou Kikongo terminam com consoantes, todas terminam com vogais.

A Letra "X" substitui o "CH" e tem sempre o mesmo valor.

A letra "R" apenas pode ser seguida pela letra "I", portanto "Ra", "Re', "Ro""Ru" estão incorretas.

"GE" e "GI" tem o som de "GUE" e  "GUI"
Exemplo - Lesenge = Lê-se e fala-se  LESENGUE

A,E,I,O,U - Vogais soam como em português.
"S" Soa sempre como "Ç" e nunca como "Z"

"IA" = De, do, da
Dia = De
Kia = Dos, das (Plural de "IA")
Ni = Com
Niene = Com eles
Nieme = Comigo
Nietu = Conosco
Nieie = Contigo
U = És
Eme = Eu
Eme ngai = Eu fui
Kual eme = Por mim
Ku = Preposição - Para, por, em, ao, aos, as
Kua = por, de
Ami = Meu
Jami = Meus - Plural de Meu
Ngi = Sou
Ngai = Fui
Etu = Nós
Enu = Vós
Kuia = Ir
Kuia Moxi = Ir dentro
Ni Nzambi = Com Deus
Iaonso = De todos
Iaonso etu = De todos nós

Dimi dyetu, kifa kyetu
Nossa língua, nossa cultura

Frases e referencias desse texto, foram retiradas do dicionário elaborado por minha irmã de santo Katulembe (Fá).

Nzambi beka muvó.

Tat'etu Kiretaua

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

ENTENDIMENTO REFERENTE AS DIVINDADES KONGO ANGOLA - ANGOLA.

Acredito que para nós que cultuamos Minkisi e Akixi (Plural de Nkisi e Minkixi), seja mais difícil/complicado poder transmitir para as pessoas e principalmente aos leigos, quem são e como são nossas Divindades!
Os Orisá/Orixás de origem Nagô, são exaustivamente falados e conhecidos, com acessos explicativos fáceis de encontrar em vários canais, onde suas histórias e lendas são divulgadas sem restrições, já os de origem Bantu/Bantus, por seus próprios costumes e personalidade desses antigos povos, pois são bem mais fechados quando se trata de seus cultos religiosos, se tornou muito mais difícil o entendimento. Tentarei passar um pouco mais da visão e da forma de como enxergamos e cultuamos as nossas Divindades....

Quando falo da dificuldade de entendimento é porque geralmente as pessoas possuem dificuldades para entender e diferenciar que os nossos Minkisi e Akixi, não são pessoas que viveram na terra em algum período da humanidade e depois do desencarne se transformaram em Santos ou Deuses, que não são espíritos ou entidades de luz e que também não possuíram e não possuem forma ou imagem para serem adorados. Creio que esse tipo de visão e crença, está ligada diretamente à outras nações e religiões, como por exemplo os Nagô/Yorubás, que acreditam que seus Orisá/Orixás tiveram vida em terra e por seus atos grandiosos quando humanos se transformaram em Deuses, também os Católicos e os Gregos possuem crenças parecidas, pois para os mesmos, os seus Santos e Deuses foram homens que viveram na terra e por suas boas ações se transformaram em SANTOS/DEUSES após suas mortes.

Para nós das nações Kongo Angola e Angola, acreditamos e cultuamos as energias do universo, do planeta e da natureza viva.
Acreditamos que tudo é energia e que essas energias são a base e o alicerce do planeta e de todo universo, vindas em frações/fragmentos de uma energia grandiosa e infinita (DEUS - NZAMBI MPUNGU) e que essa infinita energia, tudo criou!

Primeiro tudo era água, depois surgiu a terra juntamente com as bactérias que deram origem à vida, primeiro a flora e depois a fauna e bilhões de anos depois surgiu o homem, num processo evolutivo do animal,  numa engrenagem perfeita criada por Deus, onde tudo evolui, apenas a natureza continua da mesma forma conforme foi criada por Deus, pois o mesmo ar criado a bilhões de anos atrás continua o mesmo, a terra e a água de bilhões de anos continuam as mesmas, as chuvas, as folhas, o raio, o trovão, os ventos, os oceanos, o sol, a lua e etc.... são os mesmos desde suas criações, POIS SÃO PERFEITOS E NÃO PRECISAM EVOLUIR, são a ESSÊNCIA de Deus em nosso planeta, são as primeiras criações e são o alicerce do planeta..... O homem constrói coisas incríveis, armas e máquinas de muito poder, mas quando se trata da natureza, de conter uma tempestade, ou um ciclone ou oceano em fúria (Tissunami), com certeza é melhor correr, pois essa força bruta da natureza e esse poder incalculável que tudo pode, é Deus!!! E contra esse poder, apenas as orações e torcer pela misericórdia do criador.

Nossas Divindades são essas energias..... Quando falamos de NDANDALUNDA, estamos falando da força energética que vem da água, que nos fortalece, nos purifica e nos dá a vida, pois água é VIDA!
Essas águas estão no planeta e na natureza viva de várias formas e condições! Exemplo: Águas calmas e barrentas, águas cristalinas, nascente de águas, águas em corredeiras, águas fortes e revoltas, águas turvas, águas em cascatas, águas profundas e rasas, enfim cada uma dessas formas representam a atuação de uma Divindade única e individual em seu campo de atuação, tendo sua função específica na natureza e no planeta. Quando falo de NZAZI, falo da energia que é liberada pela RAIO e desce com seu risco energético dos céus em direção a terra e à ela se ligando, porém quando falo de LUANGO, falo da claridade liberada pelo raio e que sobe clareando os céus com sua luz branca.

Apesar de serem únicas e individuais, toda natureza está interligada pela perfeita criação de Deus, e a mesma nos mostra a todos os instantes através de seus exemplos perfeitos, que nada ou ninguém consegue alcançar a sua plenitude sozinho, sendo egoísta ou supondo ser auto suficiente e poderoso.
A terra precisa da água para ter vida, a água precisa da terra para lhe servir de abrigo, a tempestade precisa do vento e o raio precisa do trovão, o sol e a lua em períodos diferentes foram criados por Deus para trazerem a luz e etc....

Espero ter colaborado para um entendimento melhor referente as nossas Divindades...

Njila Kiambote!

Tat'etu Kiretaua.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

CANDOMBLÉ PRESO EM SEUS PRÓPRIOS GRILHÕES

Olá amigos!

Venho através desse texto, expor algumas questões sobre o Candomblé, religião que me completa, que amo, sigo e pratico. Tenho minha religião como fonte de vida, amor, fé, verdade e formação do caráter e da dignidade, ou seja, para o homem em sua vida de forma ampla e geral.

Ao meu ver, Deus é único. Existem muitos caminhos religiosos, que são escolhidos por cada pessoa para chegar até ele, e todos esses caminhos, sem exceção, devem ser respeitados.

Vivemos em um estado LAICO e todos os seres humanos possuem o direito, este defendido pela lei, de escolher a religião a qual quer professar e seguir.
Na história da humanidade, tivemos alguns acontecimentos em momentos distintos, onde a crueldade e situações desumanas prevaleceram fortemente! A Segunda Guerra Mundial trouxe o massacre ao povo judeu de forma cruel e desumana, onde países como Alemanha, pagam indenizações até os dias atuais para os judeus. No entanto, em minha opinião, o período mais desumano da humanidade foi a escravidão imposta aos negros trazidos forçadamente de várias partes do continente africano.
O Brasil foi o país que mais recebeu negros, que vinham primeiramente da África Sul Equatorial (Angola, Congo, Cabinda, Moçambique e etc...) e depois os homens que faziam as capturas dos negros foram subindo até chegar na antiga Benin, hoje Nigéria e também em outras regiões, como por exemplo onde viviam os povos Daomeanos.
Pois bem, mesmo a escravidão sendo o período mais triste e vergonhoso da humanidade, que durou cerca de 330 anos, nunca houve nenhuma indenização paga ao povo negro, apenas um pedido de desculpa do Papa João Paulo II no final do século passado "pelo tratamento aos negros e índios". Referente aos judeus, além das indenizações que citei acima pela Alemanha, o VATICANO a algum tempo atrás se desculpou publicamente com maior ênfase por sua omissão no período da Segunda Grande Guerra em defesa dos judeus, e esse período de guerra durou cerca de seis anos, muito menor que o período da escravidão (330 anos), onde a condição de escravo abrangeu cerca de seis gerações de negros.
Após o fim da escravidão e a "libertação" do negros, os mesmos continuavam sobre o domínio e manipulação dos brancos, sofrendo com questões racistas e preconceituosas, sem sequer poder exercer sua religião sem a perseguição do branco, onde eram obrigados a inventar situações CATÓLICAS dentro de suas casas religiosas para não serem presos e espancados pela "polícia branca" e pessoas racistas e preconceituosas. Adaptaram imagens de santos católicos, roupas da moda baiana da época, orações e etc.... para com isso, ludibriar os perseguidores e poder manter suas casas abertas.
Falei tudo isso, pois em MINHA OPINIÃO, esse tipo de atitude já não nos cabe mais, porém muitas adeptos das religiões de matrizes africanas continuam fortemente mantendo a igreja católica dentro de suas casas de Candomblé..... Lembro que no período da escravatura, os padres católicos obrigavam através de chibatadas que os negros e também os índios se convertessem ao catolicismo, sem se importar com a vontade, tradições e costumes desses povos em cativeiro. E o mais absurdo é que até os dias atuais o preconceito e discriminação continuam contra o povo negro e contra o povo de Candomblé, porém hoje muito mais claro por parte dos evangélicos.
Não vemos católicos ou evangélicos procurarem o Candomblé para batizar seus filhos! Não vemos um católico ou evangélico louvar ou festejar um Orisá, Nkisi ou Vodun, mas vemos muitos de nós batizar seus filhos na igreja e louvar os santos católicos nas casas de candomblé ou festejar e homenagear nas datas consagradas aos mesmos. Antes, a lavagem das escadas do Bonfim era um ato obrigatório aos negros, deixar tudo limpo para os padres e hoje que temos o direito de praticar nossa religião, essa lavagem do Bonfim virou festa, tradição para muitos do candomblé!
Muitas casas, após a iniciação de seus Yaos, Azenza ou Vondunci, têm como tradição levar os iniciados para assistirem uma missa. Será que um pastor ou um padre, após suas formações, iriam assistir um culto em uma casa de candomblé?
TRADIÇÃO NÃO É IMPOSIÇÃO..... AQUILO QUE FEZ MUITO MAL AO NOSSO POVO NO PASSADO, QUE LHE ERA IMPOSTO, OBRIGADO, NÃO DEVERIA DE FORMA ALGUMA TER SE TRANSFORMADO EM "TRADIÇÃO".
Nossos ancestrais que sofreram e morreram pela escravidão concordariam com isso? Será que com essas atitudes, estamos honrando a memória e toda luta e dificuldade dos mesmos??
Sou Candomblecista por amor, por opção e devoção...... Cultuo Nkisi e Mukixi por minha nação e raiz,
e não tenho a igreja dentro da minha casa e principalmente não tenho a igreja dentro de mim!
MINHA OPINIÃO E SEGUIMENTO.....

TRIDENTE/GARFO - QUAL A VISÃO DESSES OBJETOS/ELEMENTOS DENTRO DAS TRADIÇÕES DE MATRIZES AFRICANAS??

Vejo em muitas raízes/casas, o uso de tridentes e garfos nos assentamentos (Kunda) de Pambu Njila, Esú ou Elegbara, porém esses objetos nunca foram de origem africana, em nenhuma das nações que aqui no Brasil se estabeleceram. Essas situações são de origem grega, onde Netuno e Poseidon faziam uso das mesmas para demonstrarem sua força e poder. Depois a Igreja Católica fortaleceu ainda mais esses instrumentos como símbolos do mal, de uso do "demônio e seus aliados do inferno", e mais tarde a Umbanda o implantou em seus cultos como arma de suas entidades denominadas como EXUS E POMBAS GIRAS..... Inclusive, as imagens que representam essas entidades na Umbanda, são fabricadas em vermelho, trazendo uma "aparência do mal", com pés de boi, capas e chifres.

As Divindades africanas, trazem em seus assentamentos situações como lança de uma ponta, lanças de duas pontas fazendo a ligação do céu com a terra..... Suas armas também são representadas da mesma forma, como clavas e lanças..... Os Nagôs também usam o FALO em seus assentamentos, como representação da virilidade desse Orisá!

Njila Kiambote!

Tat'etu Kiretaua.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

De volta...

Boa noite!

Irmãos e amigos, após nove anos sem nada postar ou fazer qualquer tipo de atualização, resolvi voltar a escrever em meu Blog e com isso, tentar trazer um pouco mais das tradições e costumes dos antigos povos Bantu, pois possuo muito orgulho em fazer parte dessas tradições.

Espero poder colaborar com todos vocês e principalmente com as nações Kongo Angola e Angola!

Abraços

Tat'etu Kiretauã